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As eleições presidenciais do início do próximo ano contam já com várias cartas lançadas, muito embora se continue a aguardar pelos trunfos que vão marcar o desfecho do "jogo": a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a sua recandidatura e a deliberação dos órgãos nacionais do PS acerca do envolvimento do partido nas eleições.
Não se esperam, a este propósito, quaisquer surpresas: Marcelo concorrerá ao segundo mandato e o PS, com maior ou menor consenso, decidirá não apoiar formalmente nenhum dos candidatos anunciados, como já sucedeu em 2016. Só não me refiro às decisões que PSD e CDS irão tomar sobre as presidenciais porque é inevitável que venham a conceder o seu apoio a Marcelo Rebelo de Sousa.
O actual presidente terá pela frente uma caminhada sem um adversário que verdadeiramente lhe dispute a vitória, cabendo-lhe enfrentar candidatos que, na sua maioria, procuram preencher e ampliar as respectivas trincheiras partidárias, como sucede com Marisa Matias, João Ferreira e André Ventura.
Já a socialista Ana Gomes tem um perfil diferente e poderá acabar por ser o principal challenger de Marcelo. O seu discurso tonitruante anti-corrupção, e quase anti-sistema, como se pode ver na forma como defende o denunciante Rui Pinto face ao sistema judicial, colhe simpatias populares em largos espectros. Na linha do que fizeram nas anteriores presidenciais Henrique Neto e Paulo de Morais, com quem tem afinidades, Ana Gomes assume um discurso populista, de verbo fácil e setas apontadas aos ditos poderosos e corruptos, pouco se importando em reunir meia dúzia de provas no sentido de incriminar este ou aquele suspeito.
A antiga eurodeputada reunirá apoios de várias frentes: de uma esquerda menos militante nos partidos do sistema, como se vê com a adesão de dirigentes do Livre, das franjas socialistas descontentes com António Costa e apreciadores das suas causas, num espectro que vai de Francisco Assis a Vera Jardim, e dos movimentos que se animam com as campanhas populistas das redes sociais.
As críticas que Ana Gomes lançou ao PS no momento da sua apresentação pública são desprovidas de sentido, já que, no meu entender, não cabia ao PS estar a promover uma candidatura presidencial. Aliás, se nos detivermos apenas nos principais candidatos, vemos que desde 1986 têm sido os candidatos a imporem-se aos partidos e não estes a gerarem candidaturas. Foi assim com Mário Soares, Freitas do Amaral, Jorge Sampaio, Cavaco Silva, Manuel Alegre, Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa. Candidaturas partidárias neste período apenas houve as de Basílio Horta e Ferreira do Amaral, nas recandidaturas de Soares, em 1991, e de Sampaio, em 2001, que não pretendiam mais do que fixar o eleitorado do centro-direita.
O contexto de grave crise económica e social em que vivemos deve concorrer para que o partido que governa esteja sobretudo focado na acção executiva e na recuperação do país. É um facto que as eleições presidenciais são importantes, nomeadamente numa altura em que vemos crescer o espaço extremista, mas caberá aos candidatos do espaço democrático que se apresentem a eleições conter e desmontar os argumentos vazios daqueles que, por muito barulho que façam, nada têm para acrescentar ao que o país precisa.