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Incursões

Instância de Retemperação.

Incursões

Instância de Retemperação.

Agora que o MCR voltou...

ex Kamikaze, 15.02.09
--- das Correntes d' Escritas, onde já sabemos que reencontrou dezenas (quiçá mesmo centenas) de amigos e que acabo de ler este escrito num blog aqui do SUL, não resisto a deixar-vos o copy-paste. Quem queira aceder ao blog onde foi escrito pode fazê-lo clicando clicando no título abaixo.

Ondjaki, Correntes d'Escritas, Pátio de Letras, Os Dias do Amor, ontem, eu

Ontem: ontem comecei por ter a certeza que nunca seria convidado para as Correntes d'Escritas, pois segundo o Ondjaki esse é um espaço "de reencontro de amigos". Ora, eu, sem amigos na literatura (e ainda com uma pessoa que se arroga de ter uma inimizade comigo, apesar de não me conhecer) como posso esperar ser convidado?

Quando cheguei ao Pátio de Letras esqueci-me do choque da definição de Correntes d'Escritas do Ondjaki e desfrutei de boas leituras de poemas na apresentação da antologia de poesia Os Dias do Amor. Fiquei um pouco vaidoso por terem lido o meu poema "antologia", é verdade, mas também envergonhado quando os muitos presentes olharam para mim. No final, alguém que não conhecia, depois de me ter felicitado pelo poema, pediu-me para escrever algo na página onde ele se encontra. Então escrevi assim "para a Filipa, que a sua vida também seja uma antologia e, de preferência, com muitos poemas".

Fui para Tavira, logo de seguida para uma festa de família, e a declaração do Ondjaki reapareceu na minha cabeça: "As Correntes d'Escritas são um espaço para o reencontro de amigos". Como diria alguém: e esta, hein?

[tn]

Porque sim

ex Kamikaze, 13.02.09
Caros leitores, venho fazer prova de vida neste fórum, após prolongado silêncio, dando conta daquilo que os amigos incursionistas, companheiros queridos de incursões várias, sempre no meu coração, lembrança e recorrentes pensamentos (ainda que não na ponta dos dedos teclantes) bem sabem: estou em "prisão domiciliária", por conta da concretização de um sonho que espero não me arraste para o pesadelo do real :)

Teclo muito ao longo do dia e da noite mas só hoje, demasiado tempo depois da radical mudança de vida, escrevi o que se pode chamar "um post". E apeteceu-me vir dar conta disso aqui. Por muitas razões, uma das quais, provavelmente a mais importante, porque sim.

Com amizade e muitas saudades,

vossa Kami

El poder del fútbol

José Carlos Pereira, 06.02.08
A entrevista que o ministro dos Negócios Estrangeiros da Colômbia, Fernando Araújo, deu ao Diário de Notícias de ontem é elucidativa sobre as condições que teve de suportar durante o longo sequestro de que foi alvo.

Poder sentir, pelas suas palavras, que os relatos radiofónicos do futebol português, lá bem longe dos Montes de Maria, eram uma preciosa ajuda para “matar” o tempo e manter a cabeça distraída, merece que nos regozijemos com esse facto. Aqueles que estão sempre prontos a depreciar o futebol deviam aprender que há poucas coisas que aproximem tanto os povos como o futebol, um desporto popular, sem fronteiras, fácil de entender e de que (quase) todos gostam.

Saber que no seu cativeiro, Fernando Araújo acompanhava e gostava do meu FC Porto, é um motivo acrescido de orgulho e de satisfação. Sobretudo por recordar que, durante o seu sequestro, ocorreu a última vitória internacional do FC Porto, precisamente frente à equipa colombiana do Once Caldas, derrotada na final da Taça Intercontinental, no Japão, em finais de 2004.

Diário Político 75

mcr, 25.01.08

América, América...

Há entre nós um respeitável cavalheiro idoso, a quem o pais deve bastante mas que perde a cabeça quando fala nos Estados Unidos. Em se tratando dos “américas”, o excelente senhor esquece rapidamente todos os apoios que recebeu nos anos difíceis de implantação da democracia e chega a jurar por Chavez ou Fidel. É obra!
Todavia não é disso que quero falar mas apenas do facto da nossa vida estar constantemente à mercê do que se passa entre os Grandes Lagos e o Rio Grande. Sirva de exemplo esta crise das bolsas, este persistente sentimento de retracção, este tem-te não caias dos mercados financeiros. E os dedos apontam todos, acusadores para Wall Street. Como se esta “wall” fosse o “paredón” onde se executam todos os inocentes especuladores europeus e asiáticos, virtuosos e cheios de “graça”.
Ora bem, as coisas não são assim tão simples nem tão fáceis. Que a América carregue um bom par de pecados, de acordo, mas não todos. Então e os tais fundos “soberanos”, essa dinheirama imensa que vem dos países “emergentes”, para não falar dos “petroleiros”, cujos biliões correm mundo à procura de ganhos rápidos. E os investimentos europeus que também não dizem que não a estas bruscas mudanças de destino consoante os ganhos valem ou não a pena?
O restrito clube dos donos do dinheiro não tem escrúpulos quando se trata do seu capital. Um pouco como os grandes accionistas de um conhecido banco português... cujo desamor pelos pequenos e pelos depositantes tem dado direito a grandes parangonas.
Claro que as famosas sub-primes também não estão inocentes longe disso mas a verdade é que no essencial tudo se reconduz ao desregramento liberal dos últimos anos, à facilidade com que certas pessoas mexem no dinheiro, no seu e, sobretudo no nosso.
E vem a talho de foice esta história mirabolante de um jovem brocker francês, empregado da “Societé Generale” que “evaporou” cinco biliões de euros, uma soma idêntica ao produto interno bruto da Nicarágua!!!
Para além de ser surpreendente o facto de um brocker, jovem (31 anos) poder mexer em tanto dinheiro, como é que se explica que o Banco, um banco poderoso, não ter intervindo a tempo? O jovem brocker está desaparecido mas promete não faltar quando a polícia o chamar. Esperemos que sim, que não falte. Que esteja vivo, enfim.
O que mais me perturba nesta história, que não me atrevo a qualificar de polícias e ladrões, é a “calma” do banco. Não foi nada, dizem os seus responsáveis, nós mesmo assim temos lucros! Dois biliões, parece.
Não acham extraordinária toda esta saga?

Regressemos aos Estados Unidos para comentar com alguma inveja e bastante admiração essa greve dos guionistas de Hollywood que dura há meses e que paulatinamente vai obtendo mais e mais apoios. E depois digam-me que os sindicatos estão em crise, como certas alminhas portuguesas se apressam a anunciar. Com crises destas podem os trabalhadores bem.
Uma palavra, a penúltima para referir a morte anunciada de Vassili Alexanian, preso preventivo há dois anos por pertencer ao grupo financeiro Yukos. O Supremo Tribunal da Rússia negou hoje a sua solicitação para ser transferido para um hospital civil. Alexanian está tuberculoso e sofre de SIDA. A partir de hoje só uma eventual amnistia por ocasião da próxima eleição presidencial em Março o poderá salvar. Todavia, é voz corrente que o preso não chega vivo a esses “idos de Março”. Como se vê na Rússia os financeiros tem outra sorte consoante são ou não amigos do poder.


Um abraço forte ao Dr. Lemos Costa. Vai vencer este mau passo. Tem de o vencer. Muss es sein soll es sein.


d’Oliveira


o gato que pesca 2

d'oliveira, 04.12.07
Agora nós ou
também queremos cumprimentar o dr. José António Barreiros

Olá a todos. “O gato que pesca” volta a estas páginas pela mão do nosso secretário mcr. Como sabem os gatos não escrevem. Não por ignorância mas apenas porque não precisam. Os gatos têm memória e por isso não precisam de reduzir a escrito as suas recordações. Somos ágrafos como certos povos africanos porque temos os nossos próprios “griots”. De resto não fabricamos papel, canetas ou computadores pela simples razão de que não precisamos deles. Os humanos produzem-nos e nós utilizamo-los se acharmos necessário.
Mas reparo agora que ainda não nos apresentámos. Como é sabido o nosso antecessor, paz à sua alma lutadora, morreu devido a uma doença fulminante. Causando um grande desgosto nos nossos hospedeiros. O mcr ainda o levou ao veterinário mas já nada se podia fazer. Eu estava lá muito quieta ao pé de um caixote metálico. A veterinária disse-lhe que eu já tinha mais de dois meses e que precisava de uma casa. No dia seguinte uma CG chorosa foi visitar-me e adoptou-me. Depois, mas isso é outra história, arranjaram-me uma parceira para brincar e viemos as duas para esta casa.
Hoje sou eu quem dita a crónica e a assina. Chamo-me Kiki de Montparnasse (Correia Ribeiro). O mcr diz que essa Kiki deu muito que falar durante os loucos anos vinte, foi modelo e musa de tudo quanto era surrealista, cubista, dadaísta sei lá o que mais. E escreveu um livro. Prefaciado pelo Hemingway, se fazem favor! Está publicado pela “José Corti” a editora que funciona na rua de Medicis mesmo em frente ao Luxemburgo. O mcr jura que ainda há de viver nessa rua!!! É bom que se apresse porque não vai para novo.
A minha partner chama-se Ingrid Bergman de Andrade e ditará a próxima crónica. Previno-vos já que ela é loira... e muito nova. Deve ter mês e meio o que explicará algumas confusões.
Todavia hoje, as duas queremos mandar um abraço ao dr. José António Barreiros brilhantemente eleito para o Conselho Superior da Ordem dos Advogados. Às vezes os humanos, juristas incluídos, têm um ataque de bom senso.
O mesmo bom senso que faltou à direcção do “Público” que ontem se esbarrondou com aquela notícia da vitória do Chavez na Venezuela. As desculpas ainda foram piores do que a notícia apressada e em cima do joelho. Aqueles inocentinhos da direcção editorial vieram dizer que todas as sondagens davam vantagem ao golpe de Estado constitucional (?) o que é esquisito porque o nosso hospedeiro ouviu noticiários da TV5, da TVE, da RAI 1 e da CNN que diziam exactamente o contrario...
O mesmo bom senso que volta a faltar aos dos Ministério dos Negócios Estrangeiros que insistem em esquecer que a política sem ética pode ser “real” mas é boçal. Um deles (nem vale a pena citar-lhe o nome porque aquela gente é toda fungível) até acha o Mugabe um tipo detestável mas... E neste mas vai um rio de indigência política e ética. Isto para não falar na pobre ideia que têm da grandiosidade da conferência... em Portugal esperam-se sempre novos milagres de Ourique de todo e qualquer evento. Foi assim que alugaram barcos para acolher visitantes numa Exposição em Lisboa que foi um fracasso de público. Como o foi o Porto capital cultural, os estádios que estão ás moscas mas que todos (gatas incluídas) pagámos etc, etc...
Neste capítulo de pagamentos o Porto leva a palma. Fez-se um edifício transparente que nunca ninguém soube para que servia. Ao fim de anos sem uso, concessionaram aquilo a meia dúzia de lojas e empresas de “eventos” tudo muito pobrete, muito tristonho com uma transparência que rima com indecência e pouca paciência para ver o que se faz dos dinheiros públicos.
Quando os humanos são cegos precisam de uma gatinha para os fazer ver.

na gravura: a Rue du chat qui pêche em Paris (5).

o gato que pesca 1

d'oliveira, 19.11.07

Olá a todos. Chamo-me Puff von Heinzelmann de Andrade e sou, como o nome não indica, um gato. Melhor dizendo um gatinho. Os meus hospedeiros foram buscar-me e às minhas irmãs à SPA. Eu fiquei com a CG e o mcr que me serve de dactilógrafo enquanto a Violeta e a Orquídea foram viver com a Ana, em Matosinhos num apartamento que tem mais vidro do que paredes.
Claro que vocês estarão surpreendidos com o meu nome. Em boa verdade o nome só me serve para cirandar no meio dos humanos. O meu nome de gato é, já se sabe, absolutamente impronunciável por vocês. Não é grave, nós os gatos sabemos desde sempre, que uma das vossas fraquezas é essa absoluta falta de entendimento destas coisas simples que qualquer gato sabe desde que nasceu. O meu hospedeiro propôs-me pois este nome de acordo com a mulher. Parece que Puff é um nome fácil. Assim não se esquecem quando tiverem de me pedir para vir almoçar. Por mim tudo bem se o almoço for coisa que se veja. Os hospedeiros costumam ter ideias absolutamente delirantes sobre o que um gato gosta de comer. Mas já lá iremos.
Antes disso vou explicar-vos porque falo em “hospedeiro”. Os humanos entre outros mitos igualmente pueris alimentam este: que são donos do mundo em que vivem (boa piada) e que podem ser donos de um gato. Como se um gato fosse um cão! Um gato, caros leitores, aceita um hospedeiro e é tudo. Alguém que se encarrega de o alimentar, de lhe dar uma casa, de lhe mudar a areia da retrete. Em troca disso deixamos que nos acariciem e nos forneçam material para aparar as unhas (reposteiros, sofás, maples enfim o trivial). Alguns humanos mais expeditos já perceberam isso mas, pelos vistos, não se importam: um gato dá-lhes status. O meu hospedeiro diz que um gato o faz esquecer por momentos os cavalheiros do governo. Eu deveria irritar-me mas percebo-o. Ele votou por ess a gente e agora tem vergonha.
Foi ele que teve a ideia de me convidar a escrever umas notas de quando em quando. Parece que neste blog há vários hospedeiros de outros gatos, o casal JSC-o meu olhar a dona Kamikaze, perdão Frau Kami, a administradora et j’en passe. Portanto preparem-se: volta e meia aqui virei dizer algumas coisas que nem sempre terão a ver com gatos (sequer os do senhor Fialho de Almeida) mas sobretudo com os humanos. Se em tempos houve um persa convidado a escrever umas cartas sobre os franceses do século XVIII não vejo porque é que, três séculos mais tarde, não deverá um gato, por natureza laico e pouco dado a puerilidades teológicas e salvíficas, dizer da sua justiça sobre um mundo bem menos interessante do que o da “ilustração”.
Aí ao lado poderão ver a minha fotografia. Apesar de perceber a emoção que ela pode despertar nas gatas convém dizer que só tenho dois meses e que, para já, não penso no sexo oposto. Há que dar tempo ao tempo.

Puff v.H.

Au Bonheur des Dames 93

d'oliveira, 15.10.07


Kami 5 mcr 0


Pois é leitoras gentis e sisudos cavalheiros que me lêem. Estou aqui que nem me aguento. Desfeito! Um punching-ball rebentado pelos murros poderosos de uma vintena de pesos pesados. Uma espécie de lisboa-depois-do–terramoto se é que a figura ainda vos desperta qualquer compaixão.
E o caso é (era) simples. Eu escrevia para aqui as minhas coisinhas, todas metidas num envelope com o título da série, estampilhava-lhes o número e, ala que se faz tarde, éter com elas direitinhas ao incursões sem til. De quando em quando a srª administradora puxava duns óculos antiquíssimos que uma antepassada algarvia lhe deixou em legado, prendia-os ao nariz (trata-se como vêem de um pince-nez, com fita preta que já só se vêem nos inexistentes filmes europeus que não passam nos nossos ecrãs) e passeava majestosamente pela propriedade podando os excessos deste seu admirador e criado que aproveita o ensejo para lhe beijar a nívea mão. Punha-me a escrita em ordem, é o que é, avisava-me, uma e outra vez que eu tinha de tomar em linha de conta a fantasiosa numeração dos meus escritos, a inflação que inocentemente lhes impunha. E dava-me conselhos: “Olhe a posteridade, mcr! E os números que vai pondo. V., porventura, não fez a velha e reaccionária escola primária onde se aprendia a ler escrever e contar de um até mil ou mesmo mais? É que dá ideia que V nem até cinquenta sabe contar...”
Eu enviava-lhe umas respostas titubeantes e até, num esforço viril e heróico, criei aqui neste macbook pro onde soletro, um ficheiro dos meus ataques desalmados à literatura. Dividi-o em capítulos e em cada um pus uma das séries. Quando ia por mais um número era só consultar o ficheiro ver o último entrado e zás: bota o seguinte.
Mas nem isso! Há dias a srª administradora enviou-me uma mensagem: que viera do Brasil, que comera bananas, que vira araras, papagaios e multidões em escasso fato de banho em ipanema, que dançara o samba e outras danças que o decoro não permite invocar, que a Sílvia é uma fera no que respeita a fazer noitadas (como se nós não suspeitássemos: aquilo dos poemas é mera fachada, o diabo da moça é danadinha para a farra!!!) e finalmente, que eu continuava a prevaricar viciosamente na numerologia, que isto parecia o moinho da Joana, enfim, uma carga de pau que me deixou mais moído que um pacote de farinha Amparo.
Fui ao ficheiro e pelo que vi estava tudo bem. Ah ah, a Kami desta vez acertou na água. Está tudo bem e nos conformes!
E foi isso que lhe respondi mandando-lhe até para exemplo e escarmento um dos meus ficheiros.
Mas está escrito no firmamento da secreta guerra de sexos que lavra neste blog que nem assim eu ganharia. Uma única vez, note-se. Eu só queria ganhar uma vez, como a nossa selecção de rugby que também veio de lá sem ver o padeiro ou a padeira, consoante. A temível administradora, puxou de novo do pince-nez e pimba! Toma lá que já bebes! E mandou-me ver uma coisa ratona que está por cima de outras ratices quando se bota à água mais um barquinho. Aí, mesmo, ao lado do monstrengo que está no fim do mundo, preto no branco, impunha-se um formidável muro de escritos numerados a eito e a preceito. Qualquer ilusão que eu tivesse bem que a abandonei quando passei, sem Dante nem Virgílio, a temível porta. Ali se provava, bloguisticamente, que coisas que eu escrevi, não escrevi, que eu tenho mas que são sombras, ou, não o sendo, esqueci de as rotular convenientemente com um número, um nome e sei lá que mais.
E agora, como vai ser a posteridade? Andarão os meus admiradores (boa piada, esta...) desvairados na minha arca etérea a tentar verificar se o bonheur 23 é esse mesmo ou outra coisa qualquer a que, cansados e desiludidos, porão o nome de variante? Variante? Variante totalmente diferente? Homessa! Que raio de avaria é essa? E haverá polémicas ferocíssimas, artigos definitivos, reputações caídas no lamaçal da ignomínia porque um autor batoteiro sem o saber, canhoto e alelado, deixou um informe monte de textos sem pai nem mãe, ou com demasiados progenitores, o que vai dar ao mesmo. Amigas e amigos: Isto nem com sheltox se resolve. Eu assumo a carga de pau que a Kami, fazendo jus ao seu guerreiro e integral nick name (Kamikaze), me ferrou. E como no rugby, assumo que ela marcou este ensaio que bem pode ser o definitivo sinal da minha derrota. E conforme aos usos desse jogo, nada mais me resta do que aplaudir a adversária e sair de campo de cabeça levantada. A próxima meia parte vai ser renhida.

A gravura poderia parecer uma "punching ball" portátil, como os telefones. Poderia mas não é: é o vero retrato de mcr antes de começar a escrever aqui as suas balivérnias. Estava gordinbho e rosado como um leitão, não é? Pois agora está feito um desastre. Fiquem-se com a fotografia dos gloriosos tempos, que a actual nem para ilustrar uma campanha sobre os efeitos nefastos do tabaco serve. Por demasiado cruel.

Expediente 7

d'oliveira, 22.08.07



O meu colega de blogue (o “agualisa6.blogs.sapo.pt” de obrigatória leitura para quem goste de perceber o mundo em que vive) João Tunes apanhou-me naquela postura balnear aí em baixo e zás mostrou-me aos leitores dele. e pergunta-se como é que é possível ler na praia. Aqui se responde que este pin-pong inter-blogs é um desporto que não cansa e que distrai.
Meu caro João Tunes
Fico a saber que V lê em toda a parte ou quase excepto na praia. Aí, desculpará mas eu ganho-lhe. Leio rigorosamente em toda a parte, retrete excluída, apesar de alguma vez o ter feito mas sem entusiasmo. Não sou como um padrinho do Joaquim Pais de Brito que até tinha uma estante nesse local. E carregada de bons livros, garantia-me o Quim. Ainda um dia hei-de de estudar esse fenómeno: que livros são aconselháveis, que tempo de leitura, quanto tempo etc...
Você fala-me do vento, da areia batida e doutros desastres próprios do nosso litoral oeste como impeditivos da leitura. Confesso-lhe que fiquei a meditar nisso porque para mim, criado na praia de Buarcos, o vento norte, a “nortada” é sinónimo quase obrigatório de Agosto. Confesso que não desgosto duma brisa no meio da “calorina” da praia. Coisas que se apanham em pequeno, decerto. Sei que V vive nesse “deserto”, que um ex-comunista reconvertido às obras públicas pesadas inventou, mas ignoro se V vive na costa ou pacificamente numa desses aduares à beira de palmeiras e uedes sob a sombra de algum minarete arruinado e reconvertido em ninho de cegonhas ou suporte de antena de telemóveis. Porque a margem sul (belo nome, pelo menos para mim, claro) tem, por um lado ,o rio já quase mar e, do outro, o mar propriamente dito.
Portanto explicar-me-ei baseando a minha tese de que V. vive mais para o lado do rio. Eu, caro amigo, para ler na praia preciso de dois requisitos: sombra e cadeira para sentar o cadáver. Havendo isso, leio tudo o que apanho à mão embora, à cautela, parta para férias já com um carregamento de livros que infelizmente aumenta pois eu não consigo estar por ali sem ir às livrarias se as houver, ou a cidades onde as haja em caso contrario. Sou um leitor compulsivo e quase omnívoro. O vento, se moderado, ajuda-me a não ter calor. As especiais antenas de que nós homens somos providos, avisam-me da passagem de banhistas interessantes porque ler só sem mais nada pode fazer mal. Assim sempre descanso os olhos gastos e só peco em pensamento.
E que livros?, perguntará V. Pois romances, alguma história, um ensaio ligeiro. E farta dose de policiais, claro. Este ano aviei dois Camilleri, outro tanto de Dona Leon e Elmore Leonard.
E o jornal, ia-me esquecendo: o “El País”. De cabo a rabo, palavras cruzadas incluídas.
Compreendo, todavia, as pessoas que não se dão na praia. Eu, aliás, aguento no máximo três horas e está feito. Dever cumprido. À uma, o mais tardar, levanto o acampamento e vou almoçar. Nesta praia, isso significava andar cinquenta metros subir uma dúzia de degraus e acolher-me a uma esplanada agradável com uma lista decente e barata. Seguidamente uma sesta, banhinho em casa, um café e o resto da tarde para continuar uma tradução dum excelente romance que tenho de entregar.
A segunda parte da sua carta punha uma questão curiosa. Agora é quase obrigatório gostar-se de praia. E ir para lá. E tomar banho de mar mesmo que a água esteja fresca até para pinguins. Hoje parece mal não ir para um desses paraísos vagamente tropicais, estorricar ao sol, regressar bem pretinho e sem perceber em que país se está ou esteve. Provavelmente as pessoas acharão que as férias são isto e que o resto não importa. Alguém me disse uma vez que em férias não quer preocupar-se. Eu também não. Só que mesmo em Agosto o mundo rola e alguma coisa acontece. Sobem os preços, governos tomam decisões cruciais sabendo que a malta está distraída a molhar o pé e, em contados casos invade-se a Checoslováquia ou dá-se um golpe militar no Chile.
Percebo inteiramente que a praia possa ser para muito boa gente, uma chatice das gordas. Aliás, na Figueira, havia veraneantes que nunca cruzavam sequer a esplanada da praia. Davam umas voltas pelas ruas em redor do casino, sentavam-se nas esplanadas dos cafés mais em voga e davam por cumprida a sua missão. Sempre a mais de um quilómetro do mar...
Eu, para não ir mais longe, só desço ao areal para acompanhar a CG. Lá dou um mergulho, e zás, chuveiro e livro de novo. Com uma excepção: se houver ondas boas e com alguma força ninguém me tira da água. Este ano o mar estava manso e chão, uma chatice. Não se podia “picar uma carreira” nem mergulhar às ondas mais altas. Paciência, também ninguém morre à falta disso. Aliás o mais provável, se houvesse mar mais buliçoso, seria aparecer alguma autoridade e proibir o banho. Esta malta resolveu, uma vez por todas, proteger o indígena de tudo. Das touradas (de que não gosto) da morcela da Beira porque é artesanal, do vinho morangueiro (que dispenso) da sardinha assada por via das dioxinas e de mais um milhão de coisas que até ontem significavam diversidade. E do tabaco (deixei de fumar ainda no século passado) claro. Parece que a palavra de ordem é : tu serás salvo a bem ou a mal!
Mais dia menos dia, meu caro João Tunes, aparece-lhe aí por casa um cabo de esquadra com uma intimação do tribunal: obrigado a fazer praia, em horário laboral completo quinze dias em cada Verão.
Até lá continue a gazetar à areia e vá dando notícias. De si, dos livros e do resto. Um abraço deste seu (também compulsivo) leitor.

suponho que V. não desgostará da esplanada do "aux deux magots" para um café e leitura. Aí está.

missanga a pataco 21

d'oliveira, 29.06.07

Outra vez!

Meu querido e velhíssimo amigo Manuel

Convenhamos que isto começa a passar dos limites. Voltaste a fazer anos! Sessenta, desta vez. Livra, pá, estás velho! Se te apressares, coisa que, como se verá, não me parece que faças, ainda me apanhas. Ao fim e ao cabo são só cinco anos. E cinco anos quando se perfazem (que é isso o que te aconteceu, velho, perfizeste, os sessentinhas. Melhor dito, hoje é o primeiro dia dos sessenta e um. Número primo, diga-se, se é que ainda te lembras...) sessenta, são um tirinho, quase nada.
Eu dizia que tu, não tens estaleca para me apanhar. É que não esqueço, old chap, os teus truques para andar tão pouco quanto possível quando eu te desafiava para irmos da rua 59 até Washington Square. Num percursozinho de escassos três quilómetros ofereceste-me três cafés e fizemos a última metade de metro... Se tu desses à perninha como dás ao remo quando fazes canoagem estavas na selecção nacional. Como és preguiçoso e arranjaste um joelho vão ou qualquer coisa do mesmo calibre, uma balela para andar pouco e devagar, tiveste que demorar este tempo todo para chegar aos sessenta. Idade redonda, camarada, o respeitável público começa a olhar para nós como quem olha para a venerável múmia do faraó Ramsés II. E nós? Como é que olhamos para eles, os novos? Com um sorriso trocista? Com inveja? Ou babados como olhas para o Pedro, seis redondos meses e um riso arrasador...?
Seja como for, estás a dever-me um belo almoço, o tal que seria amanhã e já não é porque a “Lindinha” resolveu desconfiar que vai chover! Eu, caríssimo, olho para o céu e nem uma nuvem, mesmo pequena, vejo. Para que a vergonha não recaia definitiva e solene sobre a família Simas Santos fui, de propósito lavar o carro. Até o aspirei, vê bem que sacrifício. E isto porque, sempre que lavo o bólide, chove que Deus a dá. Além do almocinho que não vem, eis que esportulo mais seis euros sem contar as moedas para a maquineta aspiradora... tudo para ver se chove. Vem chuva miraculosa lavar as ruas, as casas e a antiquíssima sovinice do Manel. E traz contigo um abraço dos amigos, perto ou longe, que hoje erguem um copo de três de um tinto decente à saúde do aniversariante. E que venham muitos. E bons. E bem!
Um abraço do teu
M.

na gravura: obviamente Daumier: les gens de Justice

telegrama

mcr, 28.05.07

Fazendo meus os votos do colega anterior e com um abraço ao Carteiro.

Carteiro, esteja descansado!

A menina aqui ao lado passa multas mas de estacionamento que neste estabelecimento pode-se fumar.

"seu"

d'Oliveira