Ultrapassadas as primeiras reflexões acerca dos resultados eleitorais de 30 de Janeiro e conhecidos alguns efeitos já provocados nos partidos políticos, os portugueses interrogam-se sobre o que podem esperar para o futuro próximo, anunciada que está a posse do novo governo para 23 de Fevereiro.
António Costa, com o resultado obtido e a perspectiva de governar quatro anos em maioria absoluta, tem a responsabilidade de constituir um executivo forte, capaz, composto por personalidades de indiscutível mérito e reconhecimento. Um partido como o PS, que passa a dispor de uma maioria que não fica amarrada às exigência de Bloco e PCP, tem condições para atrair para o governo políticos, gestores e académicos da máxima reputação. O próximo governo tem perante si o imperativo de colocar o país numa rota de crescimento sustentado, promovendo as reformas necessárias para mobilizar todo o nosso potencial. Creio, aliás, que esse é o desiderato de António Costa: entregar o país em 2026 num patamar de desenvolvimento e de equilíbrio das contas públicas substancialmente diferente do que se encontra hoje, tirando o devido partido dos fundos provenientes da Europa, seja o Plano de Recuperação e Resiliência, seja o Portugal 2030.
Quanto à oposição, que se deseja firme e determinada, o PSD tem pela frente o difícil desafio de escolher a liderança mais adequada para um período que prolongará por mais quatro anos o afastamento do poder. Uma liderança que, ainda por cima, não terá voz própria no parlamento e que corre o sério risco de não conseguir chegar às próximas legislativas, como sucedeu em períodos anteriores com Marques Mendes, Luís Filipe Menezes ou Marcelo Rebelo de Sousa.
Espero que o Chega, com os novos deputados, comece a demonstrar a verdadeira natureza dos seus "tesouros deprimentes", como já se tem visto nas inúmeras lutas internas e no posicionamento de vários autarcas eleitos. André Ventura, até aqui líder omnipresente, não vai conseguir tapar todos os buracos, deixando evidenciar a boçalidade e o oportunismo político de tantos dos eleitos por este partido.
A Iniciativa Liberal surpreendeu com a campanha que fez e o resultado que obteve. Fará o seu caminho de afirmação, mas também é provável que comece a ser levado mais a sério por outros contendores, que não deixarão de criticar e apontar o dedo a muitas das propostas da sua cartilha, seja à esquerda ou mesmo no campo político do centro-direita, no PSD ou no CDS, partido que tudo fará para conseguir sobreviver.
Do Bloco de Esquerda e do PCP, castigados de forma inclemente nas eleições, virá com toda a certeza uma oposição dura, na tentativa de afirmar as suas divergências com a maioria do PS, aos olhos destes partidos visto muitas vezes como o seu principal adversário. O PCP, através da CGTP, tentará ainda aproveitar as lutas sociais para recuperar algum do terreno perdido.
PAN e Livre, com um deputado cada, enfrentam o desafio de tornar a sua voz audível num quadro de maioria parlamentar, embora partindo de circunstâncias diversas. O PAN após um sério revés eleitoral e com sérias divisões internas, o Livre reforçado por recuperar um lugar no parlamento depois de uma campanha avaliada de forma positiva por muitos eleitores.